O que aconteceu no ‘cruzeiro da morte’ que recuperou corpos dos destroços do Titanic?

por Lucas Rabello
612 visualizações

Quando o Titanic afundou em 1912, deixou para trás mais do que apenas uma história trágica. Criou também uma tarefa massiva e comovente: recuperar os corpos daqueles que se perderam no mar. Esta é a história menos conhecida do que aconteceu após o naufrágio do famoso navio.

Imagine um navio partindo, não para aventura, mas para encontrar os mortos. Foi exatamente isso que o CS Mackay-Bennett fez em abril de 1912. Este navio, normalmente usado para lançar cabos submarinos, foi rapidamente transformado em um necrotério flutuante. A tripulação carregou-o com 100 caixões, todo o fluido de embalsamamento que conseguiram encontrar em Halifax e 100 toneladas de gelo para evitar a decomposição dos corpos. Eles achavam que estavam preparados. Não estavam.

O que a tripulação encontrou foi chocante. Havia muito mais corpos do que qualquer um esperava. Imagine isso: centenas de pessoas, ainda usando seus coletes salva-vidas, flutuando nas águas geladas do Atlântico. Foi uma visão que assombraria a equipe de recuperação por anos.

O capitão do Mackay-Bennett, Frederick Lardner, tinha um problema. Eles não tinham suprimentos suficientes para trazer todos de volta. Então, ele teve que tomar uma decisão difícil: quem voltaria para terra e quem seria enterrado no mar?

Agora, aqui está a parte desconfortável. A decisão não foi aleatória. Foi baseada na classe social. Sim, mesmo na morte, os passageiros do Titanic foram tratados de maneira diferente dependendo de quão ricos ou pobres eram.

Os passageiros da primeira classe receberam um tratamento VIP. Seus corpos foram cuidadosamente embalsamados e colocados em caixões. Os passageiros da segunda classe também foram embalsamados, mas envolvidos em lona em vez de caixões. Os passageiros da terceira classe e os membros da tripulação? Muitos deles foram simplesmente enterrados no mar após uma rápida cerimônia.

Por que fizeram isso? Bem, parte disso era prático. Eles não tinham fluido de embalsamamento suficiente para todos. Mas havia outra razão, e é bastante chocante para nós hoje. O capitão Lardner pensou que os passageiros mais ricos eram mais propensos a ter seguro de vida ou grandes heranças. Ele queria garantir que seus corpos fossem devolvidos para que suas famílias pudessem reivindicar o dinheiro.

Nas palavras dele, “Nenhum homem importante foi devolvido ao mar.” Ele achava importante trazer de volta corpos que poderiam levar a “grandes seguros e heranças e toda a litigação.”

Essa decisão mostra o quanto as divisões de classe estavam enraizadas na sociedade daquela época. Mesmo em uma tragédia tão grande quanto a do Titanic, as pessoas não conseguiam escapar dessas distinções injustas.

A equipe de recuperação também procurava maneiras de identificar os corpos. Mais uma vez, a classe desempenhou um papel. Os passageiros de classe alta costumavam ter roupas com suas iniciais bordadas ou carregar cartões de visita. Isso os tornava mais fáceis de identificar e mais propensos a serem levados de volta para a costa.

Os números contam uma história marcante. Os membros da tripulação eram 36% mais propensos a serem enterrados no mar do que outros passageiros. Os passageiros da terceira classe eram 46% mais propensos. Por outro lado, os passageiros da segunda classe tinham uma chance muito maior de serem levados para a costa. E veja só: de todos os corpos recuperados, apenas um passageiro de classe alta foi enterrado no mar.

No total, o Mackay-Bennett e outros três navios recuperaram 337 corpos. Cerca de um terço desses foram enterrados no mar. Para aqueles deixados para trás, a tripulação pegou quaisquer pertences pessoais que pudessem ajudar a identificá-los mais tarde.

Esta tarefa sombria era tão incomum que os jornais da época chamavam essas viagens de “cruzeiros da morte”. É um nome arrepiante para um trabalho arrepiante.

Olhando para trás, é fácil julgar as decisões da equipe de recuperação. Mas temos que lembrar que eles estavam trabalhando em condições incrivelmente difíceis. Eles se depararam com mais corpos do que podiam manejar e tiveram que fazer escolhas rápidas.

Ainda assim, esta história revela algo importante sobre a sociedade em 1912. As divisões de classe que moldaram a vida no Titanic não terminaram quando o navio afundou. Elas continuaram a influenciar como as pessoas foram tratadas mesmo após a morte.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.