O que é o Leviatã?

por Lucas Rabello
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Imagine uma criatura gigantesca emergindo das profundezas do oceano, com escamas reluzentes e olhos que parecem conter toda a sabedoria do mundo. Esta é a imagem do Leviatã, um conceito que fascina a humanidade há milênios. Mas o que exatamente é o Leviatã?

O Leviatã na Mitologia

Nas antigas lendas, o Leviatã era um monstro marinho colossal, frequentemente retratado como uma serpente ou dragão do mar. Imagine uma criatura tão grande que poderia engolir navios inteiros! Nas histórias bíblicas, especialmente no Livro de Jó, o Leviatã é descrito como uma besta invencível, símbolo do poder avassalador da natureza.

Mas não pense que o Leviatã era apenas um bicho-papão para assustar marinheiros. Na verdade, ele representava algo muito mais profundo: o caos primordial, as forças incontroláveis do universo que desafiam a compreensão humana. Era um lembrete de que, por mais que tentemos, há aspectos do mundo que estão além do nosso controle.

O Salto para a Filosofia Política

Agora, dê um salto no tempo e imagine-se na Inglaterra do século XVII. O país está mergulhado em uma guerra civil, e um filósofo chamado Thomas Hobbes está observando todo esse caos. É nesse cenário que o Leviatã ganha um novo significado, transformando-se de um monstro marinho em um conceito filosófico poderoso.

Hobbes escreveu um livro chamado “Leviatã”, publicado em 1651. Nele, ele usa a imagem do monstro mitológico para representar algo completamente diferente: o Estado. Sim, você leu certo! O temível Leviatã agora simboliza o governo, mas não qualquer governo.

O Leviatã de Hobbes

Para Hobbes, o Leviatã é um Estado todo-poderoso, uma entidade política que surge quando as pessoas concordam em abrir mão de parte de sua liberdade em troca de segurança e ordem. Ele argumentava que, sem um governo forte (o Leviatã), a vida humana seria “solitária, pobre, sórdida, brutal e curta”.

Pense nisso como um grande acordo: todos nós concordamos em seguir certas regras e obedecer a uma autoridade central para evitar o caos total. O Leviatã, nesse sentido, é como um gigante formado por todos os cidadãos juntos, trabalhando em harmonia para manter a paz e a ordem.

Mas por que Hobbes escolheu uma imagem tão assustadora para representar algo supostamente benéfico? Bem, ele queria enfatizar o poder absoluto que acreditava ser necessário para o Estado funcionar efetivamente. O Leviatã deveria ser temido e respeitado, assim como o monstro mitológico, para manter todos na linha.

O Legado do Leviatã

As ideias de Hobbes sobre o Leviatã continuam a influenciar o pensamento político até hoje. Elas levantam questões fundamentais sobre o equilíbrio entre liberdade individual e segurança coletiva, sobre os limites do poder do Estado e sobre como as sociedades devem ser organizadas.

Alguns veem o conceito do Leviatã como uma justificativa para governos autoritários, argumentando que Hobbes defendia um poder estatal praticamente ilimitado. Outros interpretam suas ideias de forma mais nuançada, vendo o Leviatã como um chamado para um governo forte, mas não necessariamente tirânico.

O Leviatã na Cultura Popular

O fascínio pelo Leviatã não ficou restrito à filosofia política. A imagem do monstro marinho continua a capturar a imaginação de artistas, escritores e cineastas. Em filmes de monstros, frequentemente vemos criaturas gigantescas que lembram o Leviatã original, simbolizando forças da natureza que desafiam o controle humano.

Na literatura, o Leviatã aparece em obras que exploram temas de poder, ordem e caos. Por exemplo, no romance “Moby Dick” de Herman Melville, a baleia branca pode ser vista como uma encarnação do Leviatã, representando as forças implacáveis da natureza contra as quais os humanos lutam.

Hoje, podemos ver ecos do conceito de Leviatã em debates sobre o papel do governo na sociedade. Discussões sobre vigilância governamental, regulamentação econômica e até mesmo respostas globais a crises como pandemias muitas vezes giram em torno da tensão entre liberdade individual e ação coletiva – o mesmo dilema que Hobbes tentou resolver com sua ideia do Leviatã.

Além disso, em um mundo cada vez mais interconectado, alguns argumentam que precisamos de um tipo de “Leviatã global” para lidar com desafios que transcendem fronteiras nacionais, como mudanças climáticas ou regulação da internet. Essas discussões mostram como o conceito do Leviatã continua relevante, evoluindo para se adequar às complexidades do mundo moderno.

Conclusão

De monstro marinho a metáfora política, o Leviatã percorreu um longo caminho. Ele nos lembra que, assim como os antigos temiam as profundezas inexploradas do oceano, nós ainda lutamos para compreender e controlar as forças que moldam nossas sociedades.

O Leviatã nos convida a refletir sobre questões fundamentais: Quanto poder estamos dispostos a ceder em troca de segurança? Como podemos criar sistemas de governo que protejam os direitos individuais enquanto promovem o bem comum? Essas perguntas não têm respostas fáceis, mas continuam a moldar nossa compreensão do mundo e nosso lugar nele.

Então, da próxima vez que você ouvir alguém mencionar o Leviatã, lembre-se: não é apenas um monstro de contos de fadas. É um símbolo poderoso que nos desafia a pensar profundamente sobre poder, sociedade e a natureza humana. O Leviatã, em todas as suas formas, continua a nadar nas profundezas de nossa imaginação coletiva, lembrando-nos das forças maiores que nós mesmos e dos desafios eternos de viver juntos em um mundo complexo e muitas vezes caótico.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.